Da ampla janela de vidro vejo a noite paulistana. Ônibus,
pessoas cansadas, jovens iniciando a diversão da noite. Ainda é cedo para
baladas, são 23h50. Fora a luz do sol, a única coisa que diferencia a noite do
dia é o menor fluxo de carros. Na cidade que nunca dorme é hora das mais
variadas tribos tomarem conta dos espaços e se mostrarem. Namorados perambulam
pela noite cinza e sem lua.
No prédio em frente as janelas estão apagadas. As cortinas
coloridas escondem desejos, tristezas, vidas amargas, gente triste ou feliz.
Ninguém está a vista. Nos outros prédios escritórios vazios. Ao fundo o som da
rua tem uma música sertaneja tocando. Coisas estranhas acontecem: um caminhão
da limpeza pública passa lavando a rua...
Fotos antigas enfeitam as paredes pastéis do hotel. O amanhã
chega lentamente. Em algumas horas o sol vai voltar. A vida continua e tanto
faz se estou aqui ou não. Tudo volta a acontecer novamente, camelos vendendo
café da manhã; pessoas passando apressadas para o metrô, taciturnas na rotina
do seu cotidiano; sorrisos distantes de alegrias não presenciais. Vidas vividas na fé, no trabalho, na
vadiagem, escondendo sonhos. Vidas já sem sonhos; gente sem lutas, lutas sem
sonhos. Esperanças. Tem de tudo. São Paulo é assim. Todo mundo e ninguém faz a
diferença...